O DESLIGAMENTO

(A SAGA DO DESEMPREGADO - 1º PARTE)


O telefone de sua mesa de trabalho toca, você atende e uma voz diz para você: "Você pode se dirigir a sala 2 do RH, agora!!!?
Você desliga o telefone e imediatamente pensa: "vou ser demitido."

Um misto de desespero e alivio é sentido naquele momento: "Estarei livre disso aqui, dessas pessoas, desse lugar, desse chefe... terei de recomeçar. terei de ir em busca de algo...será fácil me recolocar? E se a grana ficar curta, e se,e se, e se...
Em poucos segundos tudo vem até a sua cabeça e, ao descer no andar do RH e entrar na sala, você volta a realidade e se depara com seu chefe com aquela cara de "coitado feliz", que te pergunta: 'tudo bem?"
(tudo bem para quem?) Mas responde: "tudo."
E daí começa aquela ladainha do desligamento: "te chamei aqui para comunicar que você está sendo desligado da empresa, aqui estão os papeis para você assinar, etc, etc."
E você olha aquele ser pedante, falando isso de uma forma mansa, como se realmente estivesse se sentindo infeliz por fazer aquilo. Como se estivesse se importando..., mas não estava.
Na verdade, arrisco dizer que mais de 90% das demissões são pessoais.
Mesmo em época de crise, quando a empresa tem de cortar um numero x de funcionários, o gestor escolhe aquele que mais lhe desagrada, não como profissional, mas sim como pessoa.
Já vi muitos incompetentes continuarem em seus cargos, quando pessoas competentes são desligadas, pura e simplesmente porque para um gestor é mais fácil lidar com um funcionário ruim do que com um funcionário com quem não simpatiza.
Para piorar, ainda vem a tal pesquisa de desligamento. Existe algo pior e mais sem noção por parte das empresas do que fazer um funcionário responder essas pesquisas?!!!
Só existem duas possibilidades: ou se recusa a responder a tal pesquisa e sai como arrogante, ou ele reponde e se expõem. Movido pelo momento ruim que está passando, acaba não medindo as palavras e falando demais, falando com expressões de raiva, falando o que em outra situação certamente não falaria. E eu pergunto: Para que? Nada do que ele disse não será levado em consideração e ainda pode prejudica-lo no futuro. Ou seja, nas duas opções o ex-funcionário se lasca.
A sensação que tenho é que essas pesquisas de desligamentos servem apenas para as empresas limparem as suas consciências (se é que existem), fazendo a "sua parte", uma forma de se sentirem menos "mauzinhas" já  que traçam um perfil errado de uma pessoa em seu momento de desespero e fragilidade. Como se quisessem dizer para elas mesmas que fizeram a coisa certa, pois cortaram a erva daninha de sua plantação.
Na minha experiência como funcionária de grandes empresas, afirmo dizer que não existem funcionários (psicólogos ou não) mais fracos e despreparados como os de RH. Lidam com pessoas,  fugindo delas. Se mantem distantes de seus medos e anseios, enxergam apenas o que o empregador quer que enxerguem, pois como os demais são funcionários e tem medo de perderem seus postos.
São "comprados pelos salários que recebem", conhecendo muito pouco as pessoas e os seus  sentimentos de satisfações e insatisfações. Mantêm  pouquíssimo, ou mesmo nenhum,  contato com seu público intermo,  fingem que não os vê nos corredores e só sorriem quando em palestras para mostrar simpatia e ter aceitação. 
Enfim, não há certeza pior para o desligado do que saber que terá que começar tudo de novo por meio de um RH que não está nem aí para os seus...


Encerro este post com uma pergunta: qual a pior parte do desligamento para você? 





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